No próximo mês de agosto, a população brasileira dos 5.565 municípios estará recebendo recenseadores e recenseadoras para o levantamento demográfico que desde o primeiro censo, em 1872, com 643(1) municípios, se mostrou como importante fonte de dados.
Sabemos do valor das informações coletadas para acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e a evolução das características da população e como elementos importantes para definição de políticas públicas em nível nacional, estadual e municipal, bem como para a tomada de decisões na iniciativa privada, incluindo, atualmente (para algumas), as ações de responsabilidade social.
Foi no censo de 1872 que, pela primeira vez, o conjunto da população era compreendido oficialmente em termos raciais, base para o estabelecimento de novas diferenças entre os grupos sociais. Diferenças ainda longe das concepções hierarquizantes e poligenistas que se acercariam da noção de raça, anos mais tarde.Naquele momento, tratava-se de conhecer uma população de ex-escravizados que começava a exceder cada vez mais o número dos ainda escravizados. E esta diferença era possível na medida em que a instituição escravista tinha perdido a legitimidade devido à ação de grupos abolicionistas ou mesmo por meio das consequências da abolição do tráfico (1850) ou das leis posteriores que prometiam, apesar de gradual, a abolição da escravidão: a lei do ventre livre (1871), depois a lei dos sexagenários (1885), seguida da proibição dos açoites (1886) (2).
É muito importante anotar que a noção de “cor”, herdada do período colonial, não designava, preferencialmente, matrizes de pigmentação ou níveis diferentes de mestiçagem, mas buscava definir lugares sociais, nos quais etnia e condição social estavam indissociavelmente ligadas. (3)
O novo Movimento Negro, surgido nos anos 1970, enfrentou a falácia da “democracia racial” entendendo que a o quesito “cor” era determinante do lugar social da população negra. Esse conhecimento, sustentado por militantes e pensadores na área das ciências humanas e sociais (incluindo a economia e a estatística), levou a uma campanha, em nível nacional, para o censo de 1991: “Não deixe sua cor passar em branco”.
1 - o quesito “raça” foi pesquisado nos censos de 1872 e de 1890;
2 - foi suprimido em 1900 e 1920;
3 - o quesito retorna em 1940, sob o rótulo de “cor”;
4 - em 1970, o questionário não contemplou o quesito “cor”;
5 - em 1980, o quesito volta a aparecer;
6 - em 1991 o quesito “cor” está presente, incorporando a (nova) categoria “indígenas e amarelos”;
7 - o censo de 2000 admitiu “raça e cor” como sinônimos, compondo uma única categoria (“cor ou raça”). (4)
A força da campanha do Movimento Negro tinha ainda maior razão! Além da invisibilidade da população negra, pela falácia da “democracia racial”, o quesito “cor”, respondido apenas no Questionário Amostra, tangenciava uma população já impregnada pelo não lugar do ser negro, colocado sempre no lugar de 2ª classe!
“Não deixe sua cor passar em branco!” cobriu o censo de 1991 e foi reprisada no censo de 2000, com o objetivo de sensibilizar os negros e seus descendentes para assumirem sua identidade histórica insistentemente negada; ao mesmo tempo em que era um alerta para a manipulação da identidade étnico-racial dos negros brasileiros em virtude de uma miscigenação que se constitui num instrumento eficaz de embranquecimento do país por meio da instituição de uma hierarquia cromática e de fenótipos que têm na base o negro retinto e no topo o ‘‘branco da terra'', oferecendo aos intermediários o benefício simbólico de estarem mais próximos do ideal humano, o branco. (5)
Apesar de, neste novo censo de 2010, o quesito “cor ou raça” sair do Questionário da Amostra e passar a ser investigado também no Questionário Básico, cobrindo toda a população recenseada (6), ainda há um longo caminho da superação do racismo para que todos e todas respondam pela dignidade e pelo reforço da auto-estima de pertencerem a um grupo étnico que só tem feito contribuir eficiente e eficazmente para o desenvolvimento do País.
Ao contrário do que propõe as “assertivas” de exclusão, a identificação da população negra se faz necessária sempre e a cada vez para que se constate em números (como gosta o parâmetro científico) o racismo histórico que ainda está perpetrado sobre a população negra. Só depois que alcançarmos a liberdade de fato é que as anotações étnicas passarão a ser fatores que dizem respeito exclusivamente à cultura. Enquanto estivermos, como estamos hoje – após 122 anos da abolição da escravatura – vivendo uma abolição não conclusa, precisaremos reafirmar nossa etnia do ponto de vista político; econômico; habitacional; na área da saúde; na área da educação; nas condições de supressão da liberdade que não se dá apenas aos presidiários, mas a pais e mães que clamam por políticas para garantir que seus filhos e filhas possam crescer com dignidade e sem ameaças.
A proposta do IBGE de tirar a “fotografia” mais nítida o possível do Brasil, ainda está longe de ser alcançada!
E a luta do povo negro não termina! O racismo é tão implacável que, a cada etapa alcançada, um novo desafio se apresenta!
Para este ano, novamente o Movimento Negro está em campanha, em nível nacional! E, agora, é para que todos aqueles que são adeptos das Religiões de Matrizes Africanas respondam sem qualquer dissimulação: “Quem é de Axé diz que é!” (**)
O quesito “religião ou culto” continua no Questionário de Amostra e tem campo aberto para que o recenseador ou a recenseadora anote a “religião ou culto” declarado pelo cidadão, pela cidadã.
Tanto no quesito “cor ou raça” para todos (no Questionário Básico); quanto no quesito “religião ou culto” para alguns que responderão o Questionário Amostra, a população negra e seus descendentes estão conscientes de que suas palavras precisam ser firmes e que devem estar atentos para que a anotação seja feita sem qualquer margem de erro em relação ao que declarou.
Já se justificou essa omissão do quesito “cor” por um possível empenho do regime republicano brasileiro em apagar a memória da escravidão. Entretanto, parte da explicação pode vir do incômodo causado pela constatação de que nossa população era marcada e crescentemente mestiça, enquanto as teses explicativas do Brasil apontavam para os limites que essa realidade colocava à realização de um ideal de civilização e progresso. (7)
Não temos qualquer dúvida de que a resistência em tratar de raça-cor e em tudo o que a discussão implica – como políticas de reparações, com fundo para superação do racismo histórico – é a mesma que teremos de enfrentar no tratamento das Religiões de Matrizes Africanas. Não dissimular a declaração de adepto ou adepta das religiões de Axé, trazidas e preservadas como memória ancestral por aqueles e aquelas que resistiram à travessia e morte nos porões dos navios tumbeiros é dignificar a humanidade que por princípio e necessidade é diversa e assim deve permanecer.
A poligenia está superada! As evidências de que a humanidade surgiu no continente africano são cada vez em maior número e com rigor científico sempre mais acurado. O conceito de raça não tem o menor sentido, dizem nossos opositores, no afã de jamais ceder o lugar histórico de conforto a que estão acostumados! Enquanto não repararmos o estrago que o uso histórico do conceito fez a cidadãos e cidadãs que hoje são em mais de 50% da população, qualquer discussão conceitual será apenas a má retórica que tenta persuadir para continuar reinando.
Por isso,
Não vamos deixar nossa cor passar em branco!
E vamos dizer que somos de Axé!
“Quem é de Axé diz que é!”
_______(1) REIS, Eustáquio; PIMENTEL, Márcia; ALVARENGA, Ana Isabel, Áreas mínimas comparáveis para os períodos intercensitários de 1872 a 2000. 2007. Disponível em <http://www.ipeadata .gov.br/doc/ AMC-1872- 2000.doc>. Acesso em: 07 jul. 2010
(2) CAMARGO, Alexandre de Paiva Rio. Mensuração racial e campo estatístico nos censos brasileiros (1872-1940): uma abordagem convergente. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Série Ciências Humanas. Belém, v. 4, n. 3, p. 361-385, set.- dez. 2009. Disponível em:
(3) MATTOS, Hebe Maria. Das cores do silêncio: os significados da liberdade no sudeste escravista, Brasil século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. P. 98-99, apud CAMARGO, 2009, p. 7.
(4) IBGE. Anais do II Encontro Nacional de Produtores e Usuários de Informações Sociais, Econômicas e Territoriais. Pesquisas Históricas nas Instituições Estatísticas. CDDI/IBGE. 2006, p. 10
(5) CARNEIRO, Sueli. A miscigenação racial no Brasil. Correio Braziliense. Opinião. 2000. Disponível em:
(6) IBGE. Síntese das Etapas da Pesquisa. 2010. Disponível em:
(7) BOTELHO, Tarcisio R.. Censos e construção nacional no Brasil Imperial. Tempo Soc., São Paulo, v. 17, n. 1, June 2005 . Disponível em
(**) Iniciativa do Coletivo de Entidades Negras (CEN), com apoio irrestrito de Instituições de Religiões de Matrizes Africanas e do MN.
13 comentários:
VC É UM CARA DE PAU
OPORTUNISTA
VAI AGORA DIZER QUE É NEGRO.
COM ESSE CABELO TIPO PRESIDENTE.
SAI FORA OTÁRIO.
VOCÊ PODE SER TUDO, MENOS NEGRO
AGORA É FASHION DIZER QUE É DO MOVIMENTO.
NEGRO EM BARRA MANSA É VALMIRO FABIANO, É GIBI, AZEITONA, GRANDE NILTINHO DO SINDICATO, COMANDANTE NATANAEL VOCÊ É BRANCO CARA PÁLIDA DE PAU
Abraços
Ricardo
Esqueceu do Taí para todos!!!!!
beijinhos da
Branquinha de neve
(gostosa e quente a preferida do presidente, pode me provar sou uma boa cachaça)
Lembro de você Sr Paulo Roberto Lima dos tempos do SAAE. Aliás do senhor e seus amiguinhos. Nunca vou esquecer de vocês e de tudo que fizeram.
M.A.
Ingrato abandonou o Ismael
Não esqueça de quem lhe estendeu a mão quando mais você e aqueles ingratos precisavam.
O ISMAEL ESTÁ SOZINHO, ANTES TINHA TANTA GENTE QUE SE DIZIA AMIGA DELE. IMAGINO ELE COM UM CARGO PÚBLICO NOVAMENTE EM BREVE. ESTAS PESSOAS QUE O AMBANDONARAM VÃO NOVAMENTE BABAR O OVO DELE.
O ISMAEL FOI A PESSOA MAIS INJUSTIÇADA DE BARRA MANSA. SEMPRE QUE IA BEM NAS PESQUISAS TODO MUNDO APOIAVA. ERA IR MAL QUE ERA ABANDONADO.
MAS DR ISMAEL COM SUA GENIALIDADE DARÁ EM BREVE A VOLTA POR CIMA, FARÁ ALGO EM BARRA MANSA QUE TODOS VÃO FICAR ADMIRADOS. SEU NOME SERÁ LEMBRADO POR MUITOS SÉCULOS. ENTRARÁ DEFINITIVAMENTE PARA HISTÓRIA DESTE LUGAR DE TRAIDORES.
ACREDITAR E ESPERAR
COISAS INCRÍVEIS VÃO ACONTECER. PODE TREMER DE MEDO. A VITÓRIA ESTÁ PRÓXIMA.
A xuxa de Barra Mansa é Afro, você só acredito se deixar ela te beijar na boca.
Santiago e Júlio César
Amor que nem o tempo apagará
É me lembro da senhora sua mãe e do senhor seu pai. Você é negro, o Macdonald de Barra Mansa existe, o Amaro é branco, o Rio Paraíba é de água dôce, as obras do pátio de manobras já estão em andamento, não tem corrupto em BM e Elvis não morreu.
Songa Monga
Bom dia,gostaria de convida-lo a
visitar a nova revista do blog JuventudeBM
Na revista juventude BM vai encontrar:
*resultados de enquentes
*blogueiros amigos
*Reportagens
*Política
*Educação no Sul fluminense
*Homenagem aos estudantes
*Homenagm aos bloguerios linkados aqui em nosso blog
Aos inteligentes que não sabem nem entender uma postagem, meus pesâmes por tamanha ignorância.
Morro de rir das piadinhas de vocês. Algumas eu até publico, as ofensivas não.
Enquanto isso, a popularidade do blog só cresce.
O que vocês pensam de mim, não é da minha conta. Agora, vocês não sabem é o que eu penso de vocês.
To nem aí. Esta satisfação é para os leitores sérios que acessam o blog. Vocês são só mais um número no contador.
É por isto que Barra Mansa tem pouca alta-estima, político ficha suja, deputada que promete aposentar dona de casa e as pessoas ainda acreditam. São os burros, eleitores burros!
Agora leitor e missivista burro já é demais. Isto não é burrice, é falta do que fazer!
muito bom Paulinho, continue assim, seu blog é fashion!
ELIETE
Obrigado Eliete
É para leitores inteligentes e sérios que são publicadas as postagens deste blog. Infelizmente, a burrice é inerente a alguns e eu morro de rir com tamanha ignorância e infantilidade. Feliz de quem conseguiu estudar com a D.Zeca e aprender a interpretar textos. Publico os comentários porque, apesar de imbecis,intempestivos e maldosos, eu me divirto com o temor que eles têm de que o blog vá interferir em seus planos eleitorais futuros. Por enquanto estou publicando amenidades. O futuro a Deus pertence. Obrigado pelo seu comentário lúcido e coerente.
Abraço
Oi Paulinho,
Ouvi seu programa ontem, gostei muito e acho que cada dia ele esta melhor, apesar de um pouco morno e da ausência do Jefferson, que decepciona com este ato de omissão, nem na Rua ele fica mais.
Gostei muito das explicações sobre ficha-suja, mas ficaria melhor se vocês dissessem que em Barra Mansa, os dois ficha-sujas são Inês Pandeló e Roosevelt Brasil.
Quero parabenizar a todos e desejar a você e aos Ricardo um feliz dia dos pais e dizer que as palavras do Ricardo me levaram às lágrimas, pois eu também não tenho pai, que morreu há alguns anos, mas me confortaram as palavras dele e a lembrança dos momentos felizes que passamos juntos.
Grande abraço.
Professora Maria Lúcia. (não é a de Amparo)
Obrigado pela atenção Prof. Maria Lucia.
Infelizmente, por força da lei eleitoral, não podemos falar mal e nem bem de qualquer um candidato.
Mas nem precisa citar, os eleitores conscientes sabem quem são.
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